9 de dez. de 2013

O treino de força no futebol é capaz de aumentar a velocidade ou a distância do chute?
O artigo abaixo foi escrito pelo PhD Jay Williams, professor da disciplina Ciências do Exercício da  Universidade Virginia tech, Estados Unidos. Dediquei meu tempo apenas para traduzí-lo. Assim, todos os interessados no assunto poderão aumentar seus conhecimentos em relação ao treino da força no futebol. Vale a pena separar um tempinho para a leitura completa do artigo. Deixo meus comentários sobre o texto no final deste post.
Título original: Can strength training improve kick velocity or distance?

No futebol, um passe longo e de qualidade é extremamente importante. Goleiros, jogadores da defesa e do meio campo frequentemente cobram tiros livres e realizam passes longos, onde um bom chute é necessário. Ainda, se nós adicionarmos o fato dos atacantes precisarem ter um chute forte para aumentar as chances de marcar um gol, fica fácil entender por que a velocidade e a distância do chute são cruciais para o sucesso. No entanto, este aspecto de jogo (chute) do atleta pode ser aumentado? A força e a potência dos membros inferiores são importantes em vários movimentos no futebol, tais como o sprint, uma parada brusca, um salto, etc. Então, poderia o treino da força, o qual aumenta a força e a potência, ser benéfico para o chute do jogador?

Em um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Nevada, Las Vegas, jogadoras de 13 e 14 anos foram utilizadas como amostra. Elas foram separadas em dois grupos e ambos eram similares em relação a habilidade, experiência e treinamento. O grupo 1 (placebo) foi submetido ao programa regular de treino. O grupo 2 (grupo pliométrico) participou do treino regular de futebol e também de um programa de treinamento pliométrico uma vez por semana.

Durante as 6 primeiras semanas, foi realizado um treinamento pliométrico de baixa intensidade involvendo vários tipos de saltos com uma e duas pernas sobre pequenas barreiras de 15 e 25 centímetros. Da semana 8 até a 14, foram incluídos saltos em profundidade (caixa de 25 centímetros) e exercícios com cônes. Ambos os grupos realizaram dois testes antes do início da pesquisa: distância de chute e salto vertical. Foram realizados re-testes nas semanas 7 e 14.

Os resultados demonstraram que, ao final de 7 semanas, o grupo 2 (grupo pliométrico) aumentou em 10% a distância do chute e, após 14 semanas de treino, o aumento chegou a 27%. No grupo 1 (placebo), foi constatada uma diminuição na distância do chute ao longo da pesquisa. O treino pliométrico também melhorou o salto vertical das atletas. O grupo 2 apresentou um incremento no salto de 8% e 19%, após 7 e 14 semanas de treino, respectivamente.

Portanto, os resultados do estudo desmontraram que um programa de treinamento pliométrico de baixa intensidade realizado uma vez por semana é capaz de aumentar a distância do chute e o salto vertical em meninas adolescentes. O que mais impressiona é o fato de se tratar de um programa de baixa intensidade e que foi realizado apenas uma vez por semana. E, mesmo assim, os ganhos de potência e distância de chute são significativos, o que indica que o treino pliométrico pode ser bastante interessante para meninas adolescentes.

Pesquisadores da Universidade de Ballarat, Austrália, realizaram um estudo de revisão de literatura sobre o treino de força e chute no futebol. Eles descobriram que a maioria dos trabalhos apresentam resultados similares, ou seja, treino de força geral e pliometria específica aumentam a potência dos membros inferiores, bem como a velocidade e distância do chute. Esses aumentos podem ocorrer devido aos incrementos na potência dos flexores do quadril e, em menor grau, na musculatura extensora do joelho (quadríceps).

Há estudos que relatam que o treino de força não é capaz de melhorar a velocidade ou a distância do chute no futebol.  Geralmente, esses estudos tiveram como amostra jogadores de elite (adultos). Em jogadores profissionais é mais difícil observarmos grandes incrementos na performance, pois eles já se encontram no alto nível e há muito pouco espaço para aumentar ainda mais a performance, principalmente no decorrer de 12 a 14 semanas. Porém, com atletas jovens e menos experientes, o treinamento de força parece ser benéfico.

O treinador deve tomar algumas medidas de precaução quando focar o treinamento buscando o aumento da força do chute. Deve-se treinar a musculatura dos extensores do joelho, mas, ao mesmo tempo, exercícios para a musculatura dos flexores do joelho se faz necessário para minimizar os riscos de lesão nesta articulação. Um dos principais fatores causadores de lesão do ligamento cruzado anterior é o desequilíbrio muscular entre as musculaturas extensoras e flexoras do joelho.

Um outro fator importante que não podemos deixar de citar é que essas pesquisas mantiveram o foco apenas na velocidade e distância do chute. Elas não se preocuparam com a precisão do chute. Porém, os pesquisadores australianos afirmam que há uma relação inversamente proporcional entre velocidade e precisão. Em geral, quando a velocidade do chute aumenta, a precisão diminui. Segundos os estudiosos, há uma velocidade de chute sub-maxima na qual a precisão pode ser mantida. Acima disso, a precisão é afetada.

Finalizando, quando se trabalha com jovens atletas, um treinamento de força que inclui pliometria pode ser benéfico para a performance não apenas por aumentar a velocidade do chute, mas também porque melhora outros aspectos da performance no futebol e reduz o risco de lesões.

Meus comentários:

Se eu tivesse que resumir todo o texto em uma só palvara, eu utilizaria a palavra  EQUILÍBRIO. Pelo que pude verificar, o treinamento de força (incluindo pliometria de baixo impacto), quando bem estruturado, pode sim ser bastante benéfico para os jovens atletas. Equilibrio muscular é a chave para o sucesso. Quando se trabalha com cetegorias de base é sempre bom deixar um pouco a performance de lado e pensar um pouco na formação do atleta. Sempre que planejo um treino de força para jovens meu objetivo principal é a prevenção de lesão. Os aumentos de força são uma consequência e eu os considero como objetivos secundários.
Outro aspecto do texto que eu destacaria é o fator “precisão do chute”. De que adianta aumentar a velocidade do chute ao extremo se meu chute não vai na direção que eu quero? Como diz o ditado popular: “tudo demais é veneno”. Há um momento em que os aumentos na velocidade do chute deixam de ser benéficos, pois o chute não é preciso, não atinge o alvo desejado. É necessário saber dosar velocidade e precisão. Mais uma vez a palavra “equilíbrio” aparece como ponto chave.


Referências:
RUBLEY, M.D. HAASE, A.C., HOLCOMB, W.R, GIROUARD, T.J, TANDY, R.D. The effect of plyometric training on power and kicking distance in female adolescent soccer players. Journal of Strength and Conditioning Research, 25: 129-134, 2011.
YOUNG, W.B, RATH, D.A. Enhancing foot velocity in football kicking: the role of strength training. Journal of Strength and Conditioning Research, 25: 561-566, 2001.

Fonte: PabloFeitoza

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